Os perigos de uma fé desequilibrada-Pt.02 | Rev. Thiago Mattos

27.09.2024

Os perigos de uma fé desequilibrada-Pt.02 | Rev. Thiago Mattos

Emoções desiquilibradas.

   ”Mesmo sem tê-lo visto vocês o amam. Mesmo não o vendo agora, mas crendo nele, exultam com uma alegria indescritível e cheia de glória, obtendo o alvo dessa fé: a salvação da alma.” (I Pedro 1:8,9)”

   Certa vez, conversava com um amigo pastor e eu falava sobre o quão admirável era a fé de um determinado irmão. A resposta desse meu amigo foi: “o problema é que ele chora demais…” É evidente que alguém que tem emoções desequilibradas é, de fato, um problema, afinal, uma fé bíblica traz a redenção das nossas emoções. No entanto, a fala deste pastor reflete a forma como nós, presbiterianos, enxergamos as emoções: elas são ’ameaças’ à nossa fé! Afinal, nós temos um exercício de fé ‘mais racional’ (talvez, mais intelectual), que não abre espaço para o emocionalismo.

   Acontece que, por conta do nosso medo de cairmos no emocionalismo e extrapolarmos no ‘sentir’, desequilibramos para o outro lado – mantemos um racionalismo doentio a respeito da fé e das coisas espirituais. Confesso não saber se este receio está relacionado à essência da fé reformada ou se isso é influência do liberalismo pernicioso que dominou o pensamento da igreja do século XX. Digo isso porque não consigo encontrar tal aversão na origem e no desenvolvimento da teologia reformada – ao contrário, vemos nos Reformadores e nos Puritanos uma teologia extremamente emotiva, onde o “sentir Deus” fazia parte da experiência de fé. Com isso, parece evidente que, ao negarmos a importância das emoções na fé, estamos sendo muito mais adeptos do liberalismo racionalista que Reformados, de fato.

Importância das emoções para nossa Fé.

 O texto da 1ª Carta de Pedro citado acima, demonstra a importância das emoções para a nossa fé. Em outras palavras, o apóstolo Pedro está dizendo aos crentes da Diáspora que uma fé verdadeira é manifesta através do amor e da alegria no Senhor, mesmo que nossa experiência com Ele ‘escape’ da capacidade que temos de ‘racionalizarmos’ quem Ele é (‘ver’ é uma experiência sensorial, mas racional que contribui para o processo cognitivo). Pedro nos diz que mesmo que nós não tenhamos tido a experiência ‘visual’ (cognitiva/racional) de estar com o Senhor, ainda assim, expressamos nossa fé através do amor e da alegria.
 
   É claro que nunca poderíamos ignorar que o amor a Deus se manifesta na obediência ‘consciente’ dos mandamentos. No entanto, perceba que nossa desobediência (expressa em nossos pecados) não acontece porque ‘desconhecemos’ (racional) os mandamentos. De fato, nós pecamos porque, no momento da tentação, amamos mais os nossos maus desejos do que amamos o Senhor. É por isso que um combate intenso com o nosso pecado envolve nossas emoções (ou ‘afetos’) direcionados ao Senhor. Mas não somente isso: a integralidade do amor molda nossa experiência de fé, afinal somos chamados a amar o Senhor de todo o coração, alma e entendimento (Deuteronômio 6:5; Mateus 22:37).
 
     Evidentemente, entendemos que “sentir Deus” é uma parte da experiência de fé do verdadeiro cristianismo e não a sua totalidade (veremos a importância de uma fé com entendimento no futuro). No entanto, quando abdicamos de “sentir Deus” estamos construindo uma fé desequilibrada que acaba por negar a sobrenaturalidade dos feitos de Deus e do Reino de Deus. Por isso, ame o Senhor; exulte nEle! Permita que suas emoções estejam “à flor da pele” naquilo que diz respeito ao seu relacionamento com Deus.
 

Em Cristo!

Rev. Thiago Mattos

Igreja Presbiteriana do Tarumã

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